segunda-feira, 8 de abril de 2013

Boa Pergunta









 
O Casamento de Oseias
 O sétimo mandamento ordena: “Não adulterarás” (Êx 20:14). Contudo, Deus ordenou ao profeta Oseias: “Vai, toma uma mulher de prostituições. [...] Foi-se, pois, e tomou a Gômer, filha de Diblaim, e ela concebeu e lhe deu um filho” (Os 1:2, 3). No capítulo 3, verso 1, Deus repetiu a ordem: “Vai outra vez, ama uma mulher, amada de seu amigo, e adúltera.” Como entender essas ordens divinas?
Muito se tem debatido e escrito sobre o casamento (ou casamentos) do profeta Oseias. Eis algumas hipóteses:
1. A história do casamento desse profeta não teria acontecido realmente, mas foi tudo fruto de uma visão (citando, em apoio, Oseias 1:1, 2). Em visão, ele teria se casado, gerado dois filhos e uma filha, a mulher dele o teria traído, etc., e, ao sair dessa visão, teria continuado solteiro e sem filhos, como antes. O problema com essa hipótese é que nada no texto sugere tratar-se de uma visão. Ao contrário, parece ser história real, literal.
2. A história do casamento desse profeta não teria acontecido realmente, mas é uma lenda (citando, em apoio, Oseias 14:9). Ou seja, alguém a teria inventado para mostrar o grande amor de Deus por Israel, mesmo estando esse povo em pecado e em profunda apostasia. Mas nada no texto sugere tratar-se de uma lenda. Ao contrário, parece ser história real, literal.
3. Gômer teria sido moça direita, mas filha de prostituta (citando, em apoio, a expressão “mulher de prostituição”, em Oseias 1:2, a qual deveria ser entendida como “mulher, filha de uma prostituta”). Mas Gômer acabara se prostituindo (conforme Oseias 2:5), imitando, assim, a mãe dela. Quem defende essa hipótese, consegue livrar-se do incômodo da ordem divina para que o profeta tomasse “uma mulher de prostituições” (Os 1:2).
4. Gômer teria sido prostituta e Deus teria ordenado ao profeta Oseias que se casasse com ela (citando em apoio Oseias 1:2, verso em que é ordenado ao profeta que se casasse com “uma mulher de prostituições”, acostumada com muitos “amantes”, conforme Oseias 2:7, 10, 12, 13).
Bem, como há pelo menos quatro hipóteses, escolho essa quarta, a qual parece fazer mais justiça ao texto bíblico (sem desmerecer quem opta por uma das três primeiras).
O fato é que, às vezes, Deus dava ordens intrigantes a Seus profetas: a Isaías foi dito que andasse “despido e descalço” por três anos (Is 20:2, 3), como andavam despidos e descalços os prisioneiros egípcios e etíopes. A Ezequiel foi ordenado que preparasse sua comida usando fezes humanas (Ez 4:12), sinal para os cativos de Judá, os quais, em terra estrangeira, comeriam coisas imundas. E ao profeta Oseias teria sido ordenado que se casasse com uma prostituta (Os 1:2).
Essa ordem ao profeta Oseias não indica que Deus apoie a prostituição ou o adultério, mas sim, que Ele perdoa a vida passada e dá nova chance ao pecador, se este se arrepender e mudar de vida. Essa teria sido a razão para dar uma ordem tão estranha ao profeta. Gômer devia ser grata a ele pela chance de abandonar a velha vida (Os 2:2) e passar a viver decentemente, desfrutando do amor incondicional do marido e do carinho e amor dos filhos (parece que somente o primeiro era filho de Oseias, conforme indica o pronome “lhe”, na expressão “ela concebeu e lhe deu um filho”, em 1:3, pronome ausente em relação aos outros dois, conforme Oseias 1:6, 8).
Resta, ainda, a questão da segunda ordem divina ao profeta: “Vai outra vez, ama uma mulher, amada do seu amigo e adúltera” (Os 3:1). Uns entendem que essa seria outra mulher. Outros (entre os quais me incluo) pensam que se trata de Gômer, a mesma mulher do primeiro capítulo de Oseias, prostituta a quem foi dada a chance de ser amada de verdade e de ter um lar, mas que não correspondeu. Se esse entendimento está correto, então o amor do profeta Oseias pela esposa adúltera fica ainda mais evidente. Gômer teria traído o marido, tido dois filhos fora do casamento e, finalmente, deixado o lar para viver com muitos amantes, sendo que o último a vendeu, indo ela parar em um mercado de escravos. O profeta, que nunca a esquecera, soube que sua ex-esposa estava à venda. E o que fez? Foi rapidamente ao local e pagou o preço cobrado por um escravo, resgatando-a daquela situação infeliz e vexatória. Ele não tinha todo o valor em espécie (30 peças de prata), mas nem por isso desistiu: pagou metade em dinheiro e a outra metade com cereais (3:2).
Que amor maravilhoso e incondicional o profeta demonstrou para com sua ex-esposa! Ele a quis novamente. Deu-lhe nova chance. Não é assim que Deus faz conosco? Ele nos aceita como somos – pecaminosos e imperfeitos. Quando erramos e O abandonamos, nem por isso deixa de amar-nos! Quando estávamos escravizados pelo pecado, Ele nos resgatou com algo muito mais valioso do que prata e ouro: o sangue de Seu amado Filho, Jesus Cristo (1Pe 1:18, 19). Será que Gômer aproveitou a segunda chance dada pelo marido? Não sabemos. Tomara que sim! O que sabemos é que você e eu podemos dizer sim a Cristo e corresponder a Seu amor com nosso amor.
Faremos isso?
 Por Ozeas C. Moura, doutor em Teologia Bíblica e professor no Unasp, Campus Engenheiro Coelho, SP.

* Extraido da Revista Adventista Abril de 2013

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