Catedral de Saint Albans
Saint Albans é uma cidade inglesa com cerca de cem mil habitantes que fica no interior da Inglaterra, ao norte de Londres.
É
um de meus lugares favoritos no mundo todo. Passei cinco anos
maravilhosos e, trabalhando com pastores de toda a Europa no
escritório regional da Igreja Adventista do Sétimo
Dia, em Saint Albans. Minha esposa, Teenie, e eu nunca esqueceremos
as pessoas maravilhosas que conhecemos, e meus filhos lembram
com saudade da época em que estavam crescendo nesse lugar.
O ritmo
da vida é um pouco diferente. Parece haver mais tempo
para as famílias, mais tempo para a arte, música,
leitura e cultura; mais tempo para ser um ser humano.
Muitos dos
prédios em Saint Albans são como pedaços
da História, guardados para nós até hoje,
como a Torre do Relógio, por exemplo. Ela existe desde
o ano 1412, quando ocupava o centro dessa cidade medieval. O
sino original ainda está intacto; o mesmo sino que badalava
as horas todos os dias.
Há
uma rua, chamada French Row, Rua dos Franceses, que recebeu
este nome por causa dos mercenários franceses que fixaram-se
ali no século 13, lutando para os barões ingleses,
contra o Rei John.
Há
também a construção de um prédio
histórico, que é mais alto que todos os outros,
que é a razão de Saint Albans existir até
hoje. Está atrás de um muro, entrando por um dos
portões da cidade.
Essa magnífica
estrutura é a Catedral de Saint Albans. É uma
das maiores igrejas da Inglaterra. Diz-se que o Rei Offa foi
quem começou sua construção. Ele era rei
do reino central da Inglaterra, chamado Mércia, no início
da Idade Média. O Rei Offa construiu um Mosteiro Beneditino
neste local.
Então
vieram os normandos, que invadiram a Inglaterra em 1066. Essas
pessoas decidiram mostrar aos saxões do local, quão
bons eram, construindo uma catedral em grande estilo. Começaram
a transformar a capela em catedral. Ainda pode-se ver a Torre
Normanda, com sua elevada arcada que fica no meio da igreja.
Mais tarde,
durante a época do Rei John, Saint Albans foi aumentada.
Gradualmente tornou-se um centro de cultura e intelectualidade.
Saint Albans
tem uma longa e interessante história. Mas a parte mais
importante de sua história é o que aconteceu mesmo
antes de ser construída, foi o que aconteceu numa colina.
A verdadeira história de Saint Albans começa abaixo
dessa colina, numa cidade romana quase esquecida, chamada Verulamium.
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Ruínas de teatro romano em Verulamium, atual St. Albans |
Sobrou apenas
um pedaço da muralha que cercava Verulamium quando esta
fazia parte da Província Romana chamada Britânia.
Os romanos, sob o comando do Imperador Claudius, tinham estendido
seu império bem ao norte, até a Bretanha.
E, como
parte de sua conquista e estabelecimento na região, construíram
uma típica cidade romana, Verulamium. Tinha tudo: fórum,
praça central, basílica, prédio do tribunal,
um teatro e banhos públicos.
O muro da
cidade, originalmente tinha cerca de 2 metros de largura na
base e 6 metros de altura. Era feito de pedra e argamassa. A
cidade ficava deste lado do muro, e era protegida por uma guarnição
romana.
Entre os
cidadãos influentes que viviam nessa importante cidade
no ano 209 A.D., estava um homem chamado Albano. Alguns acreditam
que ele era um oficial do exército. Albano pertencia
a uma cultura que adorava muitos deuses. Os romanos, como os
celtas, eram pagãos. E, além disso, todos os cidadãos
romanos que se prezavam reconheciam que o Imperador era divino.
Em 109 A.D.
uma nova religião começara a espalhar-se pelo
império. Era uma religião baseada num homem que
fora crucificado como criminoso, e que, diziam, ressuscitara
dos mortos de forma sobrenatural.
Era uma
religião que desafiava a autoridade absoluta de César.
Os cristãos declaravam que apenas Cristo deveria ser
adorado; estes cristãos primitivos O reverenciavam como
o Senhor dos Senhores, e Rei dos Reis. Por isso eram considerados
como uma terrível ameaça para a sociedade romana,
uma ameaça à lei e à ordem.
Os cristãos
eram perseguidos em todo o Império Romano, e foram perseguidos
também em Verulamium.
Albano,
como um bom cidadão, tinha poucas razões para
desafiar o estilo de vida romano. Mas certa noite ele ouviu
uma batida na porta, e aquela batida mudou tudo.
Quando Albano
abriu a porta, olhou nos olhos de um fugitivo, um homem chamado
Anfibólio. Ele era seguidor de Jesus, provavelmente líder
dos cristãos da cidade, e as autoridades o estavam perseguindo.
Bem, Albano
não conseguiu simplesmente fechar a porta. Não
foi capaz de mandá-lo embora. Não pode ignorar
este estranho que estava em apuros. Então convidou-o
a entrar. Albano era um homem de mente aberta. Ele poderia não
concordar com estes cristãos, ou mesmo entender o que
eles diziam, mas não achava que eles devessem ser perseguidos
como animais.
Assim, Albano
abriu a porta ao crente fugitivo; ele o convidou a entrar; hospedou-o
em sua casa e deu-lhe proteção.
O historiador
Bede diz que algo aconteceu a Albano durante os dias que se
seguiram. Ele viu Anfibólio orar. Ele o viu orar até
altas horas da noite, certas vezes. Às vezes podia ouvir
o que o homem dizia em oração.
As frases
religiosas que os cristãos usavam eram fora do comum,
bastante estranhas para Albano. Mas havia algo na maneira deste
homem orar, algo muito sincero, muito real, algo que ele conseguia
entender. Ele não pode deixar de ficar impressionado.
Assim Albano
começou a fazer perguntas sobre as crenças de
seu convidado.
"Conte-me
mais sobre este Jesus!
O que Sua
crucifixão tem a ver com o meu perdão?
Como você
sabe que Ele realmente ressuscitou dos mortos?"
Anfibólio
contou mais e mais a respeito de sua fé. E Albano ouvia
cada vez com mais atenção. Cristo tornou-se cada
vez mais real para ele.
Quase sem
perceber, Albano passou para o outro lado; ele dera um passo
importante.
Este muro
marcava uma linha divisória: dentro estava a proteção
da lei romana, da civilização romana. Do lado
de fora, estavam os bárbaros, os inimigos de Roma.
Quando Albano
ouviu aquele fugitivo falando a respeito de seu amor por Cristo
e sentiu a maravilha do evangelho envolver seu coração,
ele cruzou essa linha. Colocou-se do outro lado do muro. De
certa forma, tornou-se um inimigo do Governo Romano. Ele estava
sob o domínio de um Soberano diferente.
Bem, as
autoridades começaram a desconfiar. Albano decidiu que
o mais importante era proteger esse líder da igreja cristã.
Então deu a Anfibólio sua identidade; deu-lhe
o disfarce de uma cidadania romana. Albano colocou-lhe nos ombros
seu manto de oficial, provavelmente uma capa de oficial romano.
Ele vestiu seu convidado com suas próprias roupas e Anfibólio
saiu pela noite afora.
Desta forma,
o líder cristão perseguido conseguiu sair da cidade
e fugir dali. Ele escapou, como Albano.
Mas o verdadeiro
Albano teve que ficar. Logo sua atitude de ajudar e acobertar
este inimigo do estado veio à luz. As autoridades descobriram
que ele estivera protegendo um cristão, e Albano não
negou que ele mesmo tornara-se um cristão também.
Albano mudara
de lado. Foi levado perante as autoridades da cidade. Eles o
advertiram a renunciar estas loucas crenças cristãs.
Nenhum dos cidadãos distintos de Verulamium havia caído
nesta cilada. Por que deveria ele? Eles insistiram com Albano
para que simplesmente reconhecesse que César era divino.
Devem ter tentado de todas as maneiras, porque foi um longo
julgamento.
Albano,
porém, não desistiu de sua fé em Cristo.
Durante o processo ele repetiu frase que se tornaria famosa
como a oração de Santo Albano: "Eu cultuo
e adoro o verdadeiro Deus vivo, que criou todas as coisas."
Finalmente,
eles o retiraram do tribunal; levaram-no pelo portão,
para fora da cidade, e subiram a uma colina, até o local
de execução. Albano havia mudado de lado, e teria
que pagar o mais alto preço.
Eu me pergunto
o que este nobre romano estava pensando quando subiu aquela
colina. O que se passava em sua mente? O que estava sentindo,
no que estava pensando?
Ele pensou
em seus pais? Será que ficou triste por causa de alguma
jovem que nunca mais poderia ver, nunca poderia amar? Será
que pensou em tudo que teria de abandonar?
A pergunta
é: o que fez Albano continuar a subir a colina? Por que
não parou a alguma altura e simplesmente disse: "Tudo
bem, reconheço César como Senhor."
Aquela colina
deve ter parecido muito íngreme quando se considera o
que o aguardava no topo, no local de execuções.
Eu acho que Albano deve ter pensado em Alguém que subira
uma colina antes dele. Ele estava seguindo as pegadas de Alguém.
Jesus Cristo
foi levado para fora das muralhas de uma cidade por autoridades
romanas. E Ele teve que subir uma colina até o topo do
Monte Caveira. É claro que não era uma colina
bonita e verdejante, onde namorados caminham e crianças
brincam. Era uma colina rochosa, um lugar de execução
chamado Gólgota.
As costas
de Jesus sangravam profusamente enquanto Ele tropeçava
pelo caminho. Ele fora brutalmente açoitado pelos soldados
romanos. Ele fora forçado a carregar as vigas de madeira
de sua cruz pelas ruas de Jerusalém. E foi levado para
fora da cidade para ser torturado até morrer.
O que se
passava na mente de Jesus quando Ele subiu o Gólgota?
No que estava pensando quando foi morto ainda no auge da juventude?
O que estava pensando quando Seu ministério foi interrompido
abruptamente? Será que pensou na infidelidade de Seus
discípulos, que haviam fugido?
Veja o que
o escritor de Hebreus diz no capítulo 13, verso 12: "Por
isso, foi que também Jesus, para santificar o povo, pelo
seu próprio sangue, sofreu fora da porta."
Por que
Jesus subiu aquela colina? Para santificar seres humanos com
Sua morte sacrifical, com Seu sangue. Era isso que Ele tinha
em mente: as pessoas que Seu sangue salvaria. A Escritura nos
diz que Jesus suportou a cruz "pela alegria que estava
diante de Si."
Jesus Cristo
escolhera fazer o sacrifício de livre e espontânea
vontade. Ele fora para Jerusalém para cumprir Sua missão.
Subiu a montanha, chamada Gólgota, com uma silenciosa
determinação.
Era sobre
este Jesus que Albano tinha aprendido, sentado aos pés
de seu convidado fugitivo, Anfibólio. Ele fora levado
a este Cristo heróico, este Cristo cujo amor parecia
não ter limites.
E assim,
Albano subiu esta colina perto da cidade onde ele vivia. Ele
sabia que Cristo subira a colina antes dele. Fosse qual fosse
a prova, Cristo já a enfrentara antes.
Não
sei o que você está enfrentando neste momento de
sua vida. Não sei que tipo de montanha íngreme
você tem tido que subir. Pode ser uma crise em seu lar,
em seu casamento. Talvez você sinta-se isolado e abandonado.
Pode ser uma cirurgia, um sério problema médico.
Pode ser um pesado fardo de culpa ou medo.
Quero, porém,
assegurar-lhe de uma coisa. Seja qual for a colina que esteja
enfrentando, pode ter uma certeza: Cristo já subiu a
colina antes de você. Aquele que foi tentado em tudo que
nós somos, deu estes difíceis passos antes de
você. Ele promete estar a seu lado quando precisar dEle.
Há
outra coisa que podemos nos perguntar sobre Albano, o romano
que mudou de lado. Por que deu àquele fugitivo seu manto?
Por que correu aquele risco? Como pôde dar sua cidadania
romana quando isto significava tudo: respeito, segurança
e posição?
No que Albano
estava pensando quando colocou aquele manto nos ombros do homem
que orou em seu lar tão fervorosamente?
Podemos
ter uma idéia, novamente, ao comparar com a experiência
de Cristo subindo a colina. Você sabe o que a cruz realmente
significou para Cristo? Você sabe que na verdade envolveu
uma troca de identidade? Está em II Coríntios
5: 21: "Aquele que não conheceu pecado, [isto é,
Jesus Cristo, enviado pelo Pai] ele o fez pecado por nós;
para que, nele, fôssemos feitos justiça de Deus."
Você
percebe a troca aqui? Cristo tomou a identidade do pecador na
cruz. Ele vestiu aquilo que o profeta Zacarias descreve como
nossos trapos de imundícia. Jesus oferece-nos Sua identidade,
a identidade de uma pessoa justa, a identidade de alguém
que Deus apontou como: "Meu Filho amado, em quem me comprazo."
(Mateus 3:17)
Cristo coloca
em nossos ombros o manto de Sua justiça, Sua boa reputação
com o Pai, e somos aceitos "no Amado."
É
por isso que Cristo subiu a colina chamada Calvário.
Na cruz, Ele trocou de identidade. Em certo sentido, os seres
humanos só entram no céu disfarçados. Ou
seja, Cristo nos dá o manto de Sua justiça. Vamos
ao trono de Deus disfarçados, ou vestidos como o Filho
amado de Deus. Este é o tanto que Cristo amou os seres
humanos perdidos. Ele morreu pelos pecadores. Ele deu Sua identidade
a pessoas que não a merecem.
Albano tinha
consciência do que Jesus Cristo lhe dera no Gólgota.
Albano fora transformado pelo evangelho, e assim teve segurança
para dar sua identidade a alguém que a precisava. Ele
sentiu o manto da justiça de Cristo ao redor de seus
ombros. Ele colocou sua capa de oficial romano sobre os ombros
de um amigo. Sim, Cristo tinha subido a colina antes dele.
Oficiais
romanos levaram Albano até o topo da colina, e ali ele
foi decapitado enquanto orava ajoelhado.
Esta execução
fora apenas um exemplo de um grande esforço feito pelo
Império Romano para eliminar o cristianismo. Eles desejavam
silenciar aquelas vozes que desafiavam a absoluta autoridade
de César.
O sangue
que Albano derramou tão heroicamente, porém, tornou-se
um grito de fé. Albano foi o primeiro mártir cristão,
que se saiba, a morrer na Bretanha. Os cristãos erigiram
uma capela para preservar sua memória. A igreja na Bretanha
cresceu. A fé que transformara Albano tocou muitos outros
corações.
E, com o
tempo, esta magnífica catedral foi construída
no local da morte como um monumento ao martírio de Albano.
O exemplo de Albano continuou a inspirar cristãos durante
os séculos. A catedral com seu nome continuou a crescer.
O lado ocidental
da Catedral, foi reprojetado e construído em estilo gótico
vitoriano no século 19. Novas gerações
desejavam acrescentar seu toque à este templo construído
para glorificar a Deus.
O sangue
de Albano, derramado naquele lugar, produziu muitos frutos.
Mas, outra vez, Cristo subira a colina antes dele.
O sacrifício
de Cristo produziu um monumento mais extraordinário ainda.
Veja como o apóstolo Paulo descreve isto em Efésios
1: 7 e 8: "No qual [ou seja, em Cristo] temos a redenção,
pelo seu sangue, a remissão dos pecados, segundo a riqueza
da sua graça, que Deus derramou [...] sobre nós."
Cristo transformou
um ato de brutalidade, Sua execução na cruz, numa
forma de compartilhar Sua graça. Ele a compartilhou em
abundância, transformou o ato de vingança de Seus
inimigos num monumento de perdão. Ele transformou um
fim vergonhoso num novo início para incontáveis
seres humanos. Ele transformou uma morte horrível num
lindo ato de redenção.
É
por isto que Cristo subiu a colina do Gólgota. Ele tinha
tanto amor a dar, tanta graça para oferecer.
Amigos,
a cruz é uma promessa de que a vida humana, qualquer
vida humana, pode ser transformada. Não importa que obstáculos
se interponham em seu caminho, há esperança. Não
importa quão íngreme pareça a colina, há
esperança.
Cristo já
subiu esta colina antes de você. Ele deu estes difíceis
passos. Ele sabe exatamente o que você está passando,
Ele pode ajudá-lo a chegar ao topo.
O mais maravilhoso
de tudo é isto: Cristo pode transformar a tragédia
da sua vida em triunfo. Ele pode transformar o que você
vai encontrar no topo da colina. Cristo pode tornar em bênçãos
as piores circunstâncias. Você pode esperar algo
terrível, um campo de batalha, mas Cristo pode transformá-lo
numa magnífica catedral.
Você
está cansado de subir esta íngreme colina sozinho?
Você não gostaria de caminhar ao lado de Alguém
que já subiu todo este caminho antes de você? Você
pode confiar nAquele que deu Sua vida por você para apoia-los
nos piores momentos. Você pode confiar nAquele que lhe
oferece Sua identidade, agora mesmo.
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