quarta-feira, 6 de março de 2013

Verdadeira renovação



Por Rubens Lessa

Existe uma distância abissal entre piedade e hipocrisia 


O papa Bento XVI (Joseph Ratzinger) comunicou, no dia 11 de fevereiro, a decisão de renunciar ao pontificado, em discurso pronunciado, em latim, durante um consistório convocado para anunciar três canonizações. Desse modo, desde o dia 28 (data da renúncia), começou um período de sede vacante. O novo papa deverá ser escolhido até a Páscoa, prevê o Vaticano. (Antes de Bento XVI, o último papa a renunciar foi Gregório XII, que abdicou em 1415, no contexto do Grande Cisma do Ocidente.)
A justificativa apresentada por Ratzinger para a renúncia foi: “No mundo de hoje, sujeito a rápidas mudanças e agitado por questões de grande relevância para a vida e para a fé, para governar a barca de Pedro e anunciar o Evangelho, é necessário vigor, tanto do corpo como do espírito, vigor que, nos últimos meses, diminuiu de tal modo em mim que devo reconhecer minha incapacidade de administrar bem o ministério a mim confiado.”
No dia 14 de fevereiro, Bento XVI pediu uma “verdadeira renovação” da Igreja Católica, durante encontro com sacerdotes da Diocese de Roma. O papa chegou apoiado em uma bengala, enquanto os aplausos se mesclavam com o “Tu sei Petrus” (Tu és Pedro). Na véspera, durante a Missa de Quarta-Feira de Cinzas, ele afirmou que a Igreja “está desfigurada” pelas “divisões em seu corpo eclesiástico”. Também denunciou a “hipocrisia religiosa” e a busca de “aplausos e aprovação”.
Hipocrisia religiosa – Bento XVI estava coberto de razão ao fazer essa denúncia, uma vez que Jesus – a pedra sobre a qual a igreja cristã foi edificada – repudiou a hipocrisia: “Assim também vós [escribas e fariseus] exteriormente pareceis justos aos homens, mas, por dentro, estais cheios de hipocrisia e de iniquidade” (Mt 23:28). Essas palavras se aplicam também a todo líder religioso envolvido em pedofilia, não importa a denominação a que pertença.
Paulo exaltou o amor “sem hipocrisia” (Rm 12:9). Ao escrever a Timóteo, disse que o amor “procede de coração puro, e de consciência boa, e de fé sem hipocrisia” (1Tm 1:5). Ele ainda revelou: “Nos últimos tempos, alguns apostatarão da fé, por obedecerem a espíritos enganadores e a ensinos de demônios, pela hipocrisia dos que falam mentiras” (4:1, 2). O apóstolo Pedro, do qual 265 papas são considerados sucessores pela tradição católica, recomendou que os cristãos devem se despojar “de toda maldade e dolo, de hipocrisias e invejas e de toda sorte de maledicências” (1Pe 2:1).
A escritora Ellen G. White faz solene advertência: “Pela história do passado, sabemos  que homens podem ocupar sagradas posições e ainda lidar enganosamente com a verdade de Deus” (Testemunhos Seletos, v. 2, p. 208). Conclui-se, portanto, que a hipocrisia é dupla: imposição de falsos ensinos e desobediência à vontade de Deus.
APLAUSOS E APROVAÇÃO – Eu me arrepio quando leio as seguintes palavras do apóstolo Paulo: “Ninguém, de nenhum modo, vos engane, porque isto não acontecerá [a vinda de Jesus] sem que primeiro venha a apostasia e seja revelado o homem da iniquidade, o filho da perdição, o qual se opõe e se levanta contra tudo que se chama Deus ou é objeto de culto, a ponto de assentar-se no santuário de Deus, ostentando-se como se fosse o próprio Deus” (2Ts 2:3, 4). Alguns séculos antes de Paulo escrever essas palavras, Daniel profetizou que esse poder político-religioso proferiria “palavras contra o Altíssimo”, magoaria “os santos do Altíssimo” e cuidaria “em mudar os tempos e a lei” (Dn 7:25). Condenar o desejo de aplauso é louvável, mas impor falsos ensinos é inadmissível.
VERDADEIRA RENOVAÇÃO – Se houvesse completa renovação em todos os movimentos religiosos, tendo como fundamento o “Assim diz o Senhor” – e não tradições humanas –, haveria no mundo “um rebanho e um pastor” (Jo 10:16). Todos obedeceriam ao conselho do primeiro anjo: “Temei a Deus e dai-Lhe glória, pois é chegada a hora do Seu juízo” (Ap 14:7). Também entenderiam o anúncio do segundo anjo: “Caiu, caiu a grande Babilônia” (v. 8) e atenderiam ao convite: “Retirai-vos dela, povo Meu” (Ap 18:4), para cumprir o que o terceiro anjo diz sobre os que rejeitam o sinal da besta: “Aqui está a perseverança dos santos, os que guardam os mandamentos de Deus e a fé em Jesus” (Ap 14:12).
Como povo chamado para proclamar as três mensagens angélicas, sabemos quais são as coisas que não combinam com a verdade que conhecemos. Uma delas é a hipocrisia religiosa, que também existe entre os laodiceanos, aos quais a Testemunha Fiel diz: “Aconselho-te que de Mim compres ouro refinado pelo fogo para te enriqueceres, vestiduras brancas para te vestires, a fim de que não seja manifesta a vergonha da tua nudez, e colírio para ungires os olhos, a fim de que vejas” (Ap 3:18).

                                                          Rubens Lessa é editor da Revista Adventista

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