Michelson Borges, jornalista pela UFSC e mestre em teologia pelo Unasp
Nahor Neves de Souza Jr., geólogo pela Unesp e doutor em engenharia pela USP
Comentário da Lição da Escola Sabatina.
Introdução
Ideia central 1: Ter sido criados à imagem e
semelhança de um Deus plural significa que manifestamos essa imagem
quando nos relacionamos, especialmente no contexto do casamento, que
provê ainda o potencial para a multiplicação. Em certo sentido, Deus
concedeu o poder criador ao homem e à mulher. Curiosa e diferentemente
dos animais, os seres humanos têm
conceitos de moral. Por que um amontoado de matéria teria isso?
Por que deveríamos confiar nas conclusões e na moral oriundas de um
cérebro tido como apenas um aglomerado de moléculas? As “explicações”
evolucionistas para a existência da moralidade têm se mostrado
insuficientes. A única resposta lógica é que o Legislador universal nos
fez à imagem dEle. Portanto, somos dotados de uma moralidade que se
reporta à moral absoluta dEle, ainda que de maneira inconsciente, para
alguns.
Ideia central 2: A crença na origem da humanidade a
partir de um casal nos torna a todos irmãos e dotados da mesma
dignidade, independentemente de sexo, etnia ou condição social. O
darwinismo social, de certa forma, ajudou a combater essa ideia,
justificando o domínio do mais fraco pelo mais forte. Na Bíblia, Deus é
apresentado como um Ser de amor incondicional e Jesus nos convida a
ser como Ele (Mt 5:44-48). A parábola do bom samaritano (Lc 10:29-37)
contradiz totalmente a lei do mais forte e apresenta o caráter de Deus
na prática; o caráter que deve ser manifestado pelos seres criados à
imagem dEle. O fato de o ser humano possuir moralidade o torna
responsável por esse senso e ele será julgado por essa compreensão.
Para refletir
1. O que significa o fato de termos sido criados pelo Deus triúno?
2. Por que a ideia de moralidade contradiz o evolucionismo naturalista?
3. A humanidade tem origem em um casal criado por Deus. Como essa crença afeta as relações humanas e contradiz o darwinismo?
Ampliação
À imagem do Grande Designer
Criado à imagem e semelhança do Criador,
espera-se que o ser humano também reflita os valores morais e éticos
que caracterizam a natureza da própria Divindade. Assim, a mente humana
pode estar apta para discernir entre o certo e o errado, entre o bem e
o mal. Essa aptidão possibilita ainda ao pesquisador identificar, no
estudo do mundo natural, tanto esteticamente como no âmbito da ciência,
aspectos positivos (que apontam para propósito e planejamento) e
aspectos negativos (ligados a processos degenerativos). Na realidade,
as características belas e funcionais da natureza são tão
extraordinárias que cientistas religiosos ou não, por força da própria razão, afirmam que o mundo natural está repleto de evidências de design. Ou seja, seria possível, por meio do estudo sistemático da natureza, distinguir entre o acidental e o intencional.
Nesse sentido se destaca a principal proposta da Teoria do Design
Inteligente (TDI): a mente humana está plenamente apta para perceber a
diferença entre acaso e desígnio. Essa percepção é de importância
fundamental nos acontecimentos cotidianos e é frequentemente utilizada
na investigação científica, especialmente nas atividades de pesquisa
experimental. Assim, a TDI inicia sua argumentação com a seguinte
questão: Os objetos (por exemplo, os organismos biológicos)
– mesmo que nada seja conhecido sobre sua origem – exibem
características empiricamente detectáveis que sinalizam com segurança a
ação de uma causa inteligente?
Os próprios proponentes dessa estrutura
conceitual sugerem a melhor resposta para a referida pergunta que, por
sua vez, constitui a premissa fundamental do design
intencional: existem sistemas naturais que não podem ser adequadamente
explicados em termos de forças naturais não dirigidas e apresentam
características que, em quaisquer outras circunstâncias, atribuiríamos à
inteligência. Essa mesma inteligência deixaria então um rastro ou
assinatura, denominado “complexidade especificada”. Por um lado, a complexidade assegura que o sistema natural em questão não é tão simples que possa ser explicado facilmente pela casualidade. A especificação, por sua vez, garante que esse mesmo sistema mostre um tipo de padrão que é a marca registrada da inteligência.
A TDI procura se limitar exclusivamente ao campo
de atuação da ciência. Por isso, a origem da vida e dos organismos não é
considerada. A existência de sistemas irredutivelmente complexos,
frequentemente identificados na biologia, representa um dos principais
argumentos utilizados pelos adeptos desse modelo. Complexidade irredutível
pode ser entendida como um sistema cujas várias partes estão
inter-relacionadas de tal forma que, ao remover uma única parte, seria
completamente destruída a funcionalidade desse mesmo sistema (um bom
exemplo é a célula).
Figura 1 – À imagem do Grande Designer
Evidentemente, os sistemas irredutivelmente
complexos, que evocam intencionalidade ou planejamento, não podem ter
se desenvolvido mediante pequenas e sucessivas modificações ao acaso
(processo não dirigido), o que contraria frontalmente as presumíveis
modificações evolutivas progressivas (para as quais não se admitem
metas, planos nem propósitos).
No contexto dos argumentos da TDI, verifica-se,
frequentemente, que o evolucionismo ateísta é coerente e eficazmente
desafiado. No entanto, a TDI procura investigar apenas os efeitos da inteligência, sem se preocupar com o agente inteligente.
Ou seja, por um lado, a evolução darwiniana (Teoria Geral da Evolução)
é consistentemente questionada, pois o tempo e o acaso jamais
refletiriam design inteligente. Entretanto, por outro lado, o
paradigma em questão revela sua maior limitação: muito embora sejam
valorizadas as evidências de planejamento na natureza, ignora-se o
óbvio: a identidade do designer ou planejador.
É importante ainda destacar que o brilhante e coerente detalhamento de inúmeras evidências de planejamento na natureza e as contundentes e pertinentes críticas ao evolucionismo caracterizam o Movimento do Design
Inteligente como um forte aliado do criacionismo. Entretanto, a TDI
constitui, em sua concepção prevalecente, um paradigma duplamente
insatisfatório, pois se restringe praticamente ao campo da biologia e
ignora a existência do agente inteligente ou planejador. Em última análise, uma inteligência fora da natureza é necessária para explicar o projeto inteligente da própria natureza.
Assim, muito embora a TDI se apresente como um modelo válido e
coerente, ela é epistemicamente insuficiente. Ou seja, a inteligência
humana não se contenta em obter apenas conhecimentos empíricos. O ser
humano, naturalmente, deseja conhecer seu passado, os propósitos de sua
existência, seu destino e um ser supremo transcendente (dimensão
espiritual). Nesse sentido, o criacionismo se mostra inegavelmente
superior e muito mais completo, em comparação com a proposta do
Design Inteligente.
Com efeito, o
Design Inteligente aponta para o Grande
Designer,
o Criador. A narrativa bíblica é simples e clara: no período definido
por seis rotações completas e sucessivas do planeta Terra, há
aproximadamente seis mil anos, o Criador organizou e/ou criou um mundo
muito superior, muito mais ordenado e complexo, para prover um ambiente
ideal para os seres vivos. Neste planeta, então perfeito, Ele colocou
os ancestrais do ser humano (Adão e Eva) e os antecessores de todos os
organismos que têm vivido neste planeta. Na ocasião, o próprio Deus
estabeleceu leis e processos físicos, químicos e biológicos
conservativos (destacando-se a capacidade de reprodução),
objetivando assegurar a continuidade de Sua criação em nosso planeta.
Essa é a verdadeira origem da vida, do ser humano e das demais
espécies. E as implicações são importantes:
1. Vindos de um mesmo casal, todos os seres humanos se tornam irmãos, independentemente das diferenças étnicas, sociais, etc.
2. Criados à imagem e semelhança de um Deus
moral, os seres humanos, diferentemente dos animais, são igualmente
dotados de senso de moralidade, atributo dificilmente explicado sob a
ótica darwinista.
3. O sexo, para os seres humanos, trata-se de
algo que vai além do mero instinto de reprodução. Ele revela o
propósito do Criador com respeito à união que deve haver entre homem e
mulher.
4. “Deus é amor” (1Jo 4:8). O ser humano,
criado à imagem e semelhança desse Deus, quando mantém comunhão com a
Divindade, manifesta esse amor ao semelhante. Isso contradiz a máxima
evolucionista que prevê a sobrevivência do mais apto e a competição
como motor da existência.
Conclusões
– O autor da Lição pergunta: “Por que, ao contrário dos
besouros, pulgas e até mesmo chimpanzés, os seres humanos têm uma
consciência moral, um conceito que distingue entre o certo e o errado?
Como seres feitos essencialmente de matéria amoral (quarks, gluóns,
elétrons e assim por diante) podem estar cientes de conceitos morais? A
resposta pode ser encontrada nos primeiros capítulos da Bíblia, que
revelam que os seres humanos são criaturas morais feitas ‘à imagem de
Deus’.”
– O próprio Kant parece apontar para o argumento moral [se
existe uma lei moral, deve existir o legislador dessa lei] ao escrever:
“Duas coisas ocupam a mente com admiração e reverência sempre
renovadas e crescentes quanto maior é a frequência e a regularidade com
que alguém reflete sobre elas: o céu repleto de estrelas sobre mim e a
lei moral dentro de mim” (Fábio Konder Comparato,
Ética: direito, moral e religião no mundo moderno [São Paulo: Cia. das Letras, 2006], p. 67, 69).
– O autor da Lição escreveu: “Deus chama o forte a cuidar do
fraco, enquanto os princípios de Satanás exigem a eliminação dos fracos
pelos fortes. Deus criou um mundo de relacionamentos pacíficos, mas
Satanás distorceu as coisas de modo tão completo que muitos consideram a
sobrevivência do mais apto o padrão normal de conduta. Se o processo
perverso de seleção natural (em que os fortes dominam os fracos)
tivesse sido o meio pelo qual viemos à existência, por que deveríamos
agir de modo diferente? Se aceitarmos esse ponto de vista e promovermos
nossos interesses, em detrimento dos menos ‘naturalmente
selecionados’, não deixaremos de seguir a Deus, e os princípios da
natureza, da maneira que Ele ordenou?”