quarta-feira, 17 de abril de 2013

Oferta de um Pobre Índio



Narra-se a história de que um jovem chefe índio, que tinha mulher e filhos, no alto Canadá, deixou numa ocasião a aldeia e retirou-se para uma floresta distante, com o fim de caçar. Logo depois de lá chegar, estando para acabar as suas provisões, saiu, como de costume, a procura de caça, mas logo viu que a sua boa forma o tinha abandonado; os animais, como se soubessem de suas intenções, retiravam-se a distância segura, fora do alcance de seus tiros. Mal-sucedido em sua empresa, o pobre índio renovou as suas excursões; mas os maus sucessos se reproduziram.
Desanimado, depois de perseverantes e longos esforços, lembrando-se do isolamento e das necessidades urgentes de sua família, a qual se alimentava, havia mais de três dias, com raízes, ele parou, exausto, e sentando-se num tronco em lugar oculto, mas de maneira que pudesse ouvir e ver seus filhinhos brincando ao redor da choupana, ficou a meditar.
Olhou para a abóbada azul acima dele e contemplou o belo firmamento e o brilhante Sol, e, olhando em redor de si, viu as verdes ervas, as agitadas árvores e o correr da água, e disse consigo: "Essas coisas não vieram aqui por acaso; é preciso que elas tenham uma causa; não se podem reproduzir por si e por isso devem ter sido criadas! E quem é seu criador? Certamente é o Grande Espírito! Eu desejaria que o Grande Espírito abençoasse o pobre índio, para que sua família não morresse de fome.
Então pensou que talvez pudesse dar alguma coisa ao Grande Espírito, para que o abençoasse.
E o que possuía ele? Tinha a sua coberta, a qual, não obstante ter-lhe prestado bom serviço e ser-lhe ainda necessária, e lha daria se o abençoasse.
Assim pegou no cobertor e deitou-o sobre um tronco, e com os olhos erguidos disse: "Aqui está, ó Grande Espírito! Aceita este cobertor, e abençoa o pobre índio, para que ache alimento e sua família não morra de fome."
A angustia do seu coração não se acalmou. Não caiu maná do céu para o aliviar. A oferta não bastou. O que deveria fazer?
Uma acha darmas lhe pendia do cinto. Podia ele dispensá-la? Sim, se fosse isso o que o Grande Espírito pedia, ele a dispensaria. Levantou-se como antes e a pôs em cima do tronco e disse: "Grande Espírito, toma a minha acha darmas; é tudo que o pobre índio tem. Não tem outra coisa mais para Te dar, toma-a e me abençoa, e dá-me alimento para meus filhos." Mas ai! não vinha resposta. O seu estado ainda era o mesmo. E agora, o que fazer? Lá estava a sua espingarda, seu único meio de caçar, seu auxílio e inseparável amigo. Como dispensá-la? Seria necessário também oferecê-la? Ele parou, mais oprimido pela sua condição triste; quase desesperado, pegou na espingarda e a pôs no tronco, e exclamou: "Ó Grande Espírito, toma a minha espingarda também! É tudo que o pobre índio possui. Toma-a e abençoa o pobre índio! Não permitas que sua família morra a fome."
Ainda assim o mensageiro de amor não vinha. Com o coração quase despedaçado, ergueu-se; um raio de luz lhe atravessou o espírito. Foi para aquele rude altar (o tronco da árvore) e ofereceu-se ao Grande Espírito.
Assim que se sentou com seu cobertor, a sua acha darmas e a espingarda ao seu lado, disse: "Aqui está, Grande Espírito, o pobre índio! Entrega-se com tudo que tem. Toma-o, pois, e abençoa-o para que ache alimento para sua família não morrer a míngua."
Em um momento muda-se a cena  e todas as coisas parecem sorrir.
Sua alma enche-se de felicidade. Enquanto ele se extasia, oh! maravilha! um veado aparece saltando para ele, vindo da floresta; levanta-se, atira e mata-o.
Assim foi a sua oferta aceita e a sua oração atendida, e dali por diante foi sempre bem sucedido na caça. Ao voltar à sua choupana, o pobre índio contou à família o que tinha acontecido; e pensando que se ele deixasse no tronco o cobertor e a acha darmas e a espingarda, não teriam proveito para ninguém, ele, portanto tomou-os e disse ao Grande Espírito que ele os guardaria para Ele, os usaria de conformidade com a Sua vontade e que dali por diante ele e tudo que lhe pertencesse seriam Seus.
Quando o tempo de caça acabou, o jovem chefe voltou à sua tribo, e logo depois, ouvindo, pela primeira vez, o ensino dum missionário cristão, escutando atentamente ao orador quando este dizia: Entregai-vos a Cristo,e recordando-se do que lhe ocorrera na floresta, não se pôde conter por mais tempo; saltou e, exclamando, disse: "Sim, isto é comigo, isto é comigo!"
Relatou ao missionário e a todos os que o cercavam, como ele se oferecera a Deus no dia da sua aflição, e com vistas mais claras, pela fé em Cristo Jesus, daí por diante se fez cristão fiel, exemplificando a beleza e a bem-aventurança de sua inteira consagração a Deus.

*Extraido do livro Pérolas Esparsas  

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